Adolescentes do ensino fundamental de uma escola pública do DF: avaliação do consumo alimentar dos escolares do período integral

Authors

  • Polyana Veloso de Oliveira Fernandes Universidade Paulista, UNIP, Campus Brasília-DF
  • Adriana Haack Universidade Paulista, UNIP, Campus Brasília-DF
  • Patrícia Kanno Universidade Paulista, UNIP, Campus Brasília-DF, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.51723/ccs.v26i03/04.194

Keywords:

Consumo de alimentos; Adolescente; Estudantes;, Macronutrientes.

Abstract

Introdução
A adolescência é uma etapa evolutiva de crescimento e desenvolvimento humano, que se apresenta em uma fase intermediária da vida, na qual se encontra entre a infância e fase adulta, classificada e definida cronologicamente dos 10 aos 19 anos de acordo com a Organização Mundial de Saúde 1 . O adolescente em geral é inclinado a apresentar mudança no hábito alimentar, além de ser influenciado por mensagens publicitárias dos alimentos e pelos modismos alimentares 2 .

Nos últimos 35 anos as doenças associadas à obesidade nos adolescentes vêm aumentando, e nesta fase ficam mais susceptíveis as deficiências nutricionais, devido à demanda aumentada de nutrientes, para atender ao crescimento característico dessa fase 3 .

Um espaço excepcional para ações da promoção de saúde é a escola 4 . O ambiente escolar é um local importante para aplicar estratégias de intervenção para formação de hábitos saudáveis aos estudantes, com opções de lanches nutritivos e adequados. Essas estratégias são fundamentais para enfrentar problemas alimentares e nutricionais. As recomendações para promoção de hábitos saudáveis no ambiente escolar vêm sendo recomendadas por organismos internacionais 5 .

Dessa forma, a avaliação do consumo alimentar pode ser utilizada como indicador indireto do estado nutricional, detectando situações de risco que expõem a alimentação de indivíduos ou de grupos. Quando se possui o conhecimento da ingestão de nutrientes, pode-se estabelecer o diagnóstico nutricional, na qual tem como objetivo formular medidas capazes de promover mudanças no comportamento alimentar. Além disso, auxilia no planejamento e definições de políticas de saúde pública e de ações de intervenção 6 .

Assim, este artigo tem como objetivo avaliar o consumo alimentar e o perfil socioeconômico dos adolescentes de 10 a 12 anos, matriculados no período integral de uma escola pública do Distrito Federal, no período de agosto a outubro, no ano de 2014.

Métodos
Delineamento do estudo

Trata-se de um estudo transversal descritivo, realizado em uma escola pública do DF, na Estrutural, no período entre agosto de 2014 a outubro de 2014.
Amostra
A amostra é composta por 22 alunos do período integral, de ambos os sexos, com a idade de 10 a 12 anos um período que está na faixa da adolescência de 10 a 19 anos classificada de acordo com os critérios da Organização Mundial de Saúde 7 .

Coleta de dados
Foi aplicado um questionário adaptado do formulário socioeconômico do Ministério Educação e Cultura (MEC)-Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) aos pais, com objetivo de identificar o perfil socioeconômico da amostra estudada com as seguintes informações: se a casa onde mora é própria, financiada, alugada ou cedida, renda familiar, quantidade de pessoas residentes e escolaridade dos pais 8 .

Os dados para avaliar o consumo alimentar foram coletados por meio do Recordatório de 24 h (R24), com informações sobre os alimentos e bebidas ingeridos nas últimas 24 horas, desde a primeira até a última refeição, no qual foram anotados as refeições consumidas em casa e na escola, horário, alimentos e a quantidade em medidas caseiras. Foi utilizado o Questionário de Frequência Alimentar (QFA) para análise do consumo de alimentos como, fast foods, refrigerantes, frutas, hortaliças, doces e salgados de pacote, classificando em: sem consumo, 1 vez na semana, 2 ou mais vezes na semana ou diariamente 9.

O programa utilizado para calcular os macronutrientes do consumo alimentar e o Valor Energético Total (VET) do R24 foi o AVANUTRI versão 3.0. Os dados alimentares foram transformados de medidas caseiras para gramas ou mililitros, utilizando-se a padronização constante em Pinheiro, Lacerda & Gomes 9 . Em seguida os macronutrientes foram comparados às recomendações da Food and Agriculture Organization (FAO) no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) quanto ao valor calórico, distribuição do
valor calórico total para as 6 refeições, quantidade em gramas e % de adequação 11 .

O QFA foi avaliado com base na pirâmide alimentar adaptada para população brasileira 12 .
Foi realizada uma escala hedônica verbal com base no modelo do teste de aceitabilidade escolar de um Projeto de Extensão da Universidade de Brasília- UNB, com o objetivo de classificar a aceitabilidade ou negação do cardápio ofertado pela escola com escala de 1 a 5. Os alunos tinham as opções de marcar indiferente, detesto, não gosto, gosto ou adoro 13 .

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Paulista de Brasília, sob o parecer consubstanciado nº 757.584. A investigação obedeceu ao disposto na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Todos os participantes, bem como seus pais ou responsáveis, foram informados sobre a razão do estudo e assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes de sua inclusão na amostra.

Análise Estatística
Para análise estatística foi realizado teste t pareado no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 18.0, atribuindo um erro de 5%. Além disso, foi realizado distribuição de frequências no programa Microsoft Excel 2010.

Resultados
Estudo realizado com 22 alunos, com idade média de 11 anos (±1,0), sendo 63,6% do sexo masculino. A Figura 1 abaixo mostra que ao se avaliar a moradia, a maioria dos alunos não reside em casa própria e o número de moradores varia entre 4 e 6 pessoas. A grande parte apresenta renda de um salário mínimo (valor base novembro/2014) e na análise da escolaridade, entre os pais nenhum apresenta nível ensino superior.

Ao se analisar o Valor Energético Total (VET), em média, para as refeições consumidas no ambiente
escolar, tais como: desjejum, almoço, lanche e jantar, observou-se que o consumo foi de 1064,6 Kcal
(± 235,6), enquanto que para o consumo restrito ao domicílio e complementar à escola, jantar e ceia,
identificou-se uma menor quantidade de calorias, 535,9 kcal (± 201,6).

A distribuição percentual do valor calórico total de 6 refeições ( domicílio e escola) ,em média, para
o desjejum foi de 22,30% (± 6,6 ), colação 4,20% (± 3,2), almoço 20,25% (± 5,6), lanche da tarde 20,95%
(±6,3), jantar 18,50% (± 7,4) e ceia 13,80% (±10).

O consumo médio escolar de alimentos em gramas e a % de adequação dos macronutrientes para
os carboidratos, proteínas e lipídios, foram de 149,14g (±56,85) e 43,53% (±20,86); 49,30g (±15,69)
e 12,55% (± 4,09); 27,89g (±12,45) e 15,72% (±5,97), respectivamente.

E em seus domicílios o consumo médio em gramas e em % de adequação de carboidratos de 64,54g (±35,75) e 15,74% (±7,81), proteína de 18,03 g (±10,61) e 4,80% (± 3,09), lipídios 22,04g (±10,77) e 11,31% (±5,68).
Em relação à ingestão dos macronutrientes em gramas, para o consumo entre o domicílio e a escola, o carboidrato e a proteína apresentaram diferença estatisticamente significativa, [t(22) = 5,65; p ≤ 0,001] e [t(22) = 7,43; p ≤ 0,001], respectivamente, onde a ingestão na instituição escolar foi maior do que em seus domicílios. Para a ingestão dos lipídios não houve diferença significativa [t(22) = 1,97; p ≤ 0,061].

Para a avaliação em porcentagens dos macronutrientes, no ambiente escolar e nos domicílios , o carboidrato e a, proteína apresentaram diferença estatisticamente significativa [t(22) = 5,36; p ≤ 0,001] e [t(22) = 6,35; p ≤ 0,001], respectivamente. A avaliação mostrou que a ingestão na instituição escolar foi maior do que em seus domicílios. Para os lipídios foi observada a ausência de diferença significativa, [t(22) = 2,34; p ≤ 0,028].

A figura 2 mostra o Questionário de Frequência Alimentar e apresenta a distribuição dos alimentos como as hortaliças e doces (consumidos diariamente), as frutas, os refrigerantes e os salgados de pacote (duas ou mais vezes por semana) e os fast foods (uma vez por semana).

Na avaliação da aceitabilidade do cardápio, figura 3, observou-se que a maioria dos estudantes, 45,47% gostam e 4,54% adoram.

 

 

Discussão
Possuir uma alimentação escolar de qualidade é um direito pleno e de forma igualitária para todo aluno, visando à garantia de segurança alimentar e nutricional. Para proporcionar uma alimentação de qualidade é necessário que se tenha uma atenção específica, sendo importante respeitar as diferenças biológicas entre as idades e as condições na qual se encontram, podendo elas ser de saúde ou até mesmo sociais 14 .

Os dados apresentados no questionário do perfil socioeconômico evidenciam um nível socioeconômico baixo, que esta de acordo com a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), apontando que mais da metade da população da Estrutural não possui nem o ensino fundamental e a média de moradores por domicílios é de 4,1 pessoas 15 .

De acordo com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), para as recomendações de adolescentes no período integral o valor energético médio necessário é de 2175 kcal, sendo que destas, 70% tem que ser fornecido pela escola como um direito do escolar e os outros 30% são um complemento adquirido em seus domicílios. Nos resultados obtidos por meio do estudo, percebe-se que os dois locais não atingem as necessidades energéticas totais dos alunos, pois domicílios e escola resultam em uma média total de 1600 kcal, e separados, a escola uma média de 1064,6 Kcal e domicílio 535,9 Kcal, na qual o Centro de Ensino precisa atingir uma média de 1520 Kcal e em domicílio uma média de 655 Kcal. Dessa maneira,
observa-se que os dois locais não estão suprindo as quantidades energéticas necessárias dos alunos 11,14 .
A distribuição do valor calórico total para as 6 refeições foram inadequadas, pois de acordo com o padronizado para algumas refeições como: colação (5 -10% do VET) , almoço ( 30% do VET) e jantar( 25 – 30% do VET) a distribuição não atingiu o percentual desejado , para o desjejum (15% do VET), lanche (5 -10% do VET) e ceia (5 -10% do VET) , foram encontrados valores acima do recomendado 11 .

Em termos de distribuição de macronutrientes na escola e domicílio foram encontradas valores de 43,53% e 15,74%; 12,55% e 4,80; 15,75% e 11,31 para carboidratos (CHO), proteína (PTN) e lipídios (LIP), respectivamente. Para todos estes nutrientes quando somados os dois locais foi observada adequação na distribuição de CHO 59,27% e LIP 27,06%, porém de PTN o valor acima com 17,35%. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) os macronutrientes devem está distribuídos em 65% de carboidrato ( x entre 55% e 75%), 12,5% de proteína ( x entre 10% e 15%), e 22,5% de lipídios (x entre 15% e 30%) 11

Os macronutrientes em gramas foram consumidos na seguinte ordem, instituição escolar e domicílio, 149,14g e 64,54g (CHO); 49,30g e 18,03g (PTN); 27,89g e 22,04g (LIP), porém ainda não são capazes de suprir a quantidade média necessária a faixa etária que corresponde aos adolescentes, pois a soma dos dois locais de CHO (213,68g), PTN(67,33g) e LIP(49,93g) não estão de acordo com o recomendado pela (FAO) que seria 385g de CHO, 74g de PTN e 59g de LIP 11 .

Em pesquisa desenvolvida por Bernardi et al. 16 , em 2010, sobre a estimativa do consumo de energia e
de macronutrientes no domicílio e na escola, foi observado que o consumo foi maior em domicílio do que no ambiente escolar, que vai de encontro aos resultados verificados na escola Estrutural.

Danelon et al. 17 , avaliando o alcance das metas nutricionais do programa “Escola em Tempo Integral”, no município de Piracicaba-SP, verificaram que o cardápio não atingiu a quantidade média de energia necessárias diárias dos escolares, corroborando com os dados deste estudo.

Na análise do consumo da escola da Estrutural mesmo com a inadequação da quantidade de calorias totais, da distribuição percentual de 6 refeições do dia e quantidade em gramas dos macronutrientes, observou-se um maior consumo no ambiente escolar do que em domicílio, pois os estudantes passam maior parte do tempo em suas atividades escolares. Sendo assim, do ponto de vista estatístico, os alimentos fornecidos pela merenda escolar do Programa Nacional da Merenda Escolar 14 está oferecendo uma quantidade de alimentos maior para a amostra estudada e que se encontra em vulnerabilidade socioeconômica, do que se eles estivessem somente em domicílio, que pode contribuir para a promoção da saúde na clientela estudada.

Segundo o PNAE 14 “A alimentação escolar é direito do aluno da educação básica pública e dever do Estado”. “O programa tem por objetivo contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos por meio de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas necessidades nutricionais durante o período letivo”. 

Na analise do QFA verificou-se que 72,73 % dos escolares consomem fast food 1 vez na semana, refrigerantes e salgados de pacote com frequência,
frutas e hortaliças com baixo consumo durante as refeições de acordo com a pirâmide alimentar adaptada para população brasileira 12 .
O baixo consumo desses alimentos pode estar relacionado ao perfil socioeconômico da cidade Estrutural que se apresenta com a renda de um salário mínimo 15 .
Outros estudos mostraram o baixo consumo de frutas e hortaliças, elevado consumo de refrigerantes e salgados de pacote e o não consumo de fast food durante a semana, por escolares, similar aos achados desta pesquisa 2,9,18

Os hábitos alimentares inadequados na adolescência com baixo consumo de alimentos como frutas e verduras e elevado consumo de refrigerantes e doces é preocupante, pois traz como consequência a probabilidade de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como diabetes, hipertensão arterial e dislipidemias e tende a se desenvolver na vida adulta 19,20,21 .

Os dados obtidos sobre aceitabilidade do cardápio mostram que a maioria dos alunos mostra boa receptividade quanto ao que é oferecido pela escola. Muniz & Carvalho 22 ao analisarem a merenda escolar, em João Pessoa encontraram que 76,7% dos alunos gostavam da merenda escolar, corroborando com os dados deste estudo.

Pesquisas realizadas com o propósito de se verificar aceitação do cardápio escolar são importantes para determinar a qualidade dos serviços de alimentação das escolas, entre outros, e promover constantes melhorias na gestão escolar 4

Conclusão
A análise do consumo alimentar dos adolescentes verificou uma maior oferta de alimentos no ambiente escolar quando comparados com o domicílio, porém a ingestão dos alimentos em ambos os locais, instituição escolar e domicílio, estão inadequadas para a faixa etária , pois não atendem as recomendações preconizadas o que pode contribuir para uma baixa qualidade nutricional nas refeições. Tendo em vista os aspectos observados constatou-se que a amostra do estudo apresenta baixa renda, baixa escolaridade e consumo alimentar inadequado.

Para buscar soluções e sabendo-se do perfil socioeconômico da clientela são necessárias, dentre outras políticas públicas, geração de emprego, renda e educação alimentar com práticas alimentares saudáveis, com objetivo de melhorar a qualidade nutricional.

 

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Author Biographies

  • Polyana Veloso de Oliveira Fernandes, Universidade Paulista, UNIP, Campus Brasília-DF

    Acadêmica do Curso de Nutrição da Universidade Paulista, UNIP, Campus Brasília-DF, Brasil.

  • Adriana Haack, Universidade Paulista, UNIP, Campus Brasília-DF

    Prof. Dra do Curso de Nutrição da Universidade Paulista, UNIP, Campus Brasília-DF,Brasil

  • Patrícia Kanno, Universidade Paulista, UNIP, Campus Brasília-DF, Brasil

    Prof. Msc do Curso de Nutrição da Universidade Paulista, UNIP, Campus Brasília-DF, Brasil

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Published

2018-05-03

Issue

Section

Saúde Coletiva

How to Cite

1.
Adolescentes do ensino fundamental de uma escola pública do DF: avaliação do consumo alimentar dos escolares do período integral. Com. Ciências Saúde [Internet]. 2018 May 3 [cited 2024 Nov. 22];26(03/04). Available from: https://revistaccs.espdf.fepecs.edu.br/index.php/comunicacaoemcienciasdasaude/article/view/194

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